Seja bem vindo ao décimo sexto artigo da série “Estratégias para Observação do Comportamento e Intervenção”. No artigo de hoje será abordada a suposição de contingência e sua utilidade para a investigação da função do comportamento.

Dando sequência ao aprofundamento do conceito de função, é importante retornar à discussão iniciada no artigo anterior, no qual foi apresentada a utilidade de fazer suposições de contingências, que o indivíduo pode identificar, como uma maneira de prever se a resposta que ele selecionar será influenciada pela função que a resposta tem de gerar consequências desejadas no ambiente.

Isso porque, já venho discutindo ao longo da série, que a previsão do comportamento é baseada na probabilidade de sua ocorrência e a explicação das causas de sua ocorrência, ao adotar uma visão selecionista, sempre vai remeter à história do indivíduo.

Assim sendo, ao buscar no passado a explicação das causas do comportamento, o que importa saber é por quais razões o indivíduo selecionou aquela resposta diante de determinados estímulos antecedentes.

Ao fazer uma suposição de contingência que o indivíduo pode ter identificado, é possível investigar se existe relação entre a resposta selecionada e as consequências que ela pode gerar no ambiente.

O grau de previsibilidade de uma suposição torna-se maior à medida que uma suposição de determinada contingência pode ser observada com regularidade no repertório comportamental do indivíduo ao longo de situações semelhantes.

No entanto, por mais previsível que seja uma resposta, é muito importante ter o cuidado de observar se a suposição se confirma ao longo do tempo no ambiente do indivíduo.

Afinal, você já deve ter reparado que as pessoas mudam ao longo do tempo. Se antes respondiam de determinada maneira à uma situação, no futuro podem responder de outra maneira. Talvez o que tenha mudado seja a função da resposta em gerar consequências no ambiente.

Na prática, vejamos o exemplo de quatro contingências que foram supostas no artigo anterior:

a) Se o indivíduo chutar a bola de modo a imprimir uma força X, então há uma alta probabilidade de ter a consequência “acertar a bola na rede pelo lado de dentro do alvo”;

b) Se o indivíduo chutar a bola de modo a imprimir uma direção Y, então há uma alta probabilidade de ter a consequência “acertar a bola na rede pelo lado de dentro do alvo”;

c) Se a bola acertar na rede pelo lado de dentro do alvo, então há uma alta probabilidade de ter a consequência “alguém gritou gol com um semblante alegre”;

d) Se o indivíduo comparar as diferentes possibilidades de consequências da resposta de chutar uma bola em um alvo, então há uma alta probabilidade da consequência “alguém gritou gol com um semblante alegre” ser mais interessante que a ocorrência das outras consequências no ambiente;

Pode-se destacar que as contingências a) e b) estão relacionadas à consequência direta de “acertar a bola na rede pelo lado de dentro do alvo”.

É possível destacar, também, que a contingência c) se refere consequência direta de “acertar a bola na rede pelo lado de dentro do alvo” e sua relação com a consequência mediada por “alguém que gritou gol com um semblante alegre”;

Por meio da contingência d) foi suposto que, dentre as consequências possíveis, uma delas tem alta probabilidade de ser a mais interessante no ambiente do indivíduo.

Se, ao chegar até aqui, você consegue supor a função que influenciou o indivíduo à selecionar a resposta de chutar uma bola em um alvo com uma força X e uma direção Y, então o objetivo do artigo de hoje está cumprido.

Anote a suposição do objetivo de hoje e continue acompanhando os próximos artigos. Até a próxima.

Graduado em Esporte, Especialista em Treinamento Esportivo e Mestre em Análise do Comportamento pela Universidade Estadual de Londrina. Possui experiência profissional na área de treinamento esportivo, com ênfase em futebol, atuando principalmente nas áreas voltadas à preparação técnico-tática, análise de desempenho e psicologia do esporte.

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